Votos de um Natal zen



O nomadismes deseja um Natal pacifico e com boas energias a todas as almas nómadas e sedentárias que por aqui passam. Muitas rabanadas e poucos sarilhos!

Mais francesismos

Na sua mais recente barbaridade e expressão de ignorância, Marine le Pen comparou as orações dos muçulmanos em lugares públicos a um acto de ocupação. Depois desculpou-se dizendo que um acto de ocupação não é necessariamente ligado à ocupação alemã da segunda guerra mundial, mas a outros exemplos como a ocupação inglesa no tempo de Joana D'Arc. Bref... Mais curiosa, julgo eu, a opinião da ala conservadora do PS que considera intolerável a oração muçulmana nas ruas de França. Não espero muito tempo para ouvir em breve mais uma lei de caça às bruxas nesta terra, onde a discussão sobre o laicismo já passou todos os níveis do bom-senso. Laurent Joffrin num artigo intitulado "Préjugés" publicado no Libération esforça-se por recordar a esta gente confusa e delirante o que significa realmente laicismo:

"La laïcité ne consiste pas à s’attaquer à telle ou telle religion comme on brandissait jadis l’épée des croisés. Songerait-on, par exemple, à interdire les processions catholiques ? La laïcité - la vraie - consiste à garantir la neutralité de l’Etat et à organiser la tolérance envers les cultes reconnus, qui ont droit de cité aux termes de la tradition républicaine. Il serait bon de s’en souvenir".

o artigo completo para quem precisar de ser esclarecido: http://www.liberation.fr/societe/01012309461-prejuges

Francesismos

A médica simpática perguntou-me se eu trabalhava. Sim, disse eu, dou aulas de português. Sorriu imediatamente. Sorriem sempre quando digo isto, de repente perdoam-me o sotaque, perdoam-me o facto de ser portuguesa sem ter bigode e sem ser porteira. Passam a tratar-me bem. Parece-lhes de repente tudo lógico. É uma frase que esclarece todos os equívocos. Se dou aulas de português em França, de repente já faz sentido o facto de morar cá, já não estou a roubar nenhum trabalho aos franceses, a minha emigração torna-se aceitável e mesmo apreciável. Coisa que nunca aconteceu quando disse que escrevia uma tese sobre o teatro do absurdo. Era o que faltava mais uma emigrante inútil a aproveitar-se do nosso sistema de saúde. Quando cá cheguei respondia à mesma questão dizendo que era empregada doméstica ou que estudava. Nem sempre lhes parecia lógico que andasse por cá a estudar. Já empregada doméstica assentava que nem uma luva no meu sotaque e condição. Mas tratavam-me sempre pior. Nunca sorriam. Gosto de sentir esta mudança de tratamento, de condição, as pequenas vitórias que alcancei como ter um apartamento em vez de um quarto com wc no corredor. Nutro-me com sentimentos comezinhos, incho-me de alegria por já não ser tratada como porteira. Devia ter vergonha na cara e revoltar-me por de repente me começarem a tratar bem por motivos tão estúpidos. Não é o facto de ter o buço feito e de não ganhar mais a vida a limpar a merda destes gajos que me faz merecer ser bem tratada. Quanto mais me apercebo da hipocrisia e xenofobia dos franceses, mais sei o quão cobarde sou por ter entrado no sistema e hoje saber como me fazer respeitar e pô-los a sorrir em vez de escarrar. Nada me resta senão aceitar a minha cobardia e deliciar-me com endívias e coquilles Saint Jacques. Não me sobram muito mais ideais para além de me esforçar por ser competente no meu trabalho e estar ao dispor da minha entourage. Este é um tempo parco em certezas e eu só sei que não quero voltar a ganhar a vida a fazer faxina.

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