en cours...



Vou partir, naquela estrada...

J-4!

Remember?

A musica começa a ficar mais pesada do que o meu estado de espirito. Respiro vanidade, em vez de oxigénio. E os anéis das minhas mãos apertam-me os dedos. E o suor debaixo dos braços confunde-se com um odor distante de desodorizante. é tempo de ir, ja chegaste, eu também e viva a inospitalidade dos dias.

Paris été 2006

Maria Carlota

Já passa da hora e ainda tenho de aturar este cretino deste genro, depois de ter enterrado dois maridos. Logo hoje que não tenho vagar. E o fulano a gesticular com as mãos papudas e ar de fedelho enfezado e insolente: Não ponho mais os pés nesta tasca cheia de lesmas a treparem pelas paredes e esta mulher que nem sabe escrever. Lesma é você, seu malcriado! desampare-me a loja que já pus o letreiro lá fora. não tarda tenho a clientela à porta a pedir-me travessas de caracóis e canja de galinha e não são os acentos nem os hagás que os vão servir, diz Maria Carlota ainda com esperança que lhe aviem aquela sopa gumosa com pedaços de cenoura cortadas pela metade. O que a safa é que há caracóis, com ou sem h, com ou sem acento. O genro afasta-se com passos de carroça e já da rua lança o último insulto, com as bochechas a transbordar de cuspo e despeito: Mais valia continuar a distribuir lã pela Baixa e pelo Verão a dentro, como fazia a parva da sua mãe. E a Maria Carlota esquece a sopa mais do que destinada a ser queimada no fogão, mas é a memória que arde e que sobe a Travessa Terras Monte, os ombros e a voz mais céleres que as pernas, os ombros e a voz a oscilarem de um lado para o outro. Do ombro esquerdo a injúria declamada e esplendorosa, com a mão a terminar na anca e a apoiar-se no rim. No ombro direito repousa de quando em quando a voz do apelo a ganhar fôlego, com o braço e a mão a gesticularem e a mandarem entrar a clientela esquecida dos caracóis, porque a fome de ouvir injúrias é bem maior que o apetite do petisco. O braço que gesticula, em breve se esquece do apelo e desce em direcção à anca para se apoiar no outro rim, porque é daí que a injúria se transforma em pregão. Pregão que sai desnorteado pela Rua Rosalina a fora para ir dar à Rua da Graça. Não fosse a clientela da Maria Carlota um maralhal de vizinhas sedentas por apregoar, já o enfezado do genro deve ter dobrado a esquina dos Anjos e ainda se ouvem as mulheres a coleccionarem insultos e pragas, junto ao mercado de sapadores. No apregoar é que está o ganho, Maria Carlota. E por pior que seja a tua tasca, não há pregão que dê mais sede que o teu.

Mixte Grill #3

Je commence à comprendre que les ambigüités cachent pensés et sincérités que je voudrais entendre et ne pas refouler.

dec06

Mixte Grill #2

Ambiguity is one reason why computers do not yet understand natural language. For some reason, we have found it valuable to use a highly ambiguous form of natural communication between us.


[in Here]

nov06

Mixte Grill #1

O dylan continua a soar no pc como um voz revolucionaria que nao se consegue calar. Pleno de esperanças de que os outros gostem dele e o tratem bem. Engana. O que ele quer é ser ouvido. Finge sentimentos e frases como quem finge acordes. Alguns, os que acreditam, acham que é some sort of God. Ha musicas que gosto, que me dizem algo, mesmo mentira, nao interessa. As vezes a mentira é mais verdade do que o real. Convencido, auto-moralista, enfim. “you’ve got a face that begs for love”. Quem é que tem uma cara que begs for love? Estou possuida com sons que nao me dizem nada e com letras que passam rapido de mais para que eu as pense. E ainda ha pessoas que pensam em mim. Porque viram alguem parecido no comboio. Porque um dia, distante, fui alguem importante na vida de outro.

nov06

Poesia no metro III

«Dites-moi»

«Dites-moi, ô mon amour, une tendresse, une parole, un mot
Pas de magie ni de sorcellerie
Pas de baguettes ni de coq crevé au carrefour
Mais la plaine même du bonheur
Et vole ma petite cigale sans queue ni plumes sans antennes sans stries.»

Jean Metellus, Voyance et autres poèmes, ed. Janus, 2005 (auteur né en 1937 au Haïti)

José Diogo Quintela diz que Sim

"eu acho que independentemente da razão (com a qual não tenho nada que ver) a mulher aborta porque pode, porque quer e porque escolhe."

Mais --> aqui <--

arminda

Queixa-se o nariz de arminda, sem compreender de onde vem o cheiro a ratos. Raios partam estes trópicos que me fazem suar a casa, me empestam o corpo encardido e que não me deixam dormir a catraia abafada a empurrar a manta de linho. Sem avisar, o augusto chega a casa, torneia-lhe as ancas, sopra-lhe ao ouvido com a voz do desejo que se mistura com a do cansaço, com a fome dos frigoles já arrefecidos. E ralha de seguida, porque a arminda o afasta, a arminda que não se atreve a dizer-lhe o que é que lhe arrefece a fome. Da última vez deitou-lhe os comprimidos pela janela. Essas drogas, esses venenos tiram-te a vontade de mim. E a arminda a chorar e a gesticular que não são venenos, que ela tem sorte em ter encontrado um médico sabido das coisas, que nem na terra dela, nem em lisboa se sonhou achar tal remédio, porque a gente não dá conta de mais filhos agora, augusto, pelo menos até acabares os teus estudos e abraça-o e insiste que ainda o quer. Porque é mais fácil acordar o desejo do que adormecer aquela criança, quanto mais pensar fazer outra nestes trópicos. E durante estes pensamentos de arminda, augusto levanta-se com o corpo ainda quente e abeira-se do berço de luísa, para descobrir o que a faz chorar e empurrar a manta de linho. O nariz de arminda não se engana, nem os ouvidos e os sentidos de mãe que ouvem augusto gritar. Uma ratazana arminda, uma ratazana que vai buscar linho à manta da menina, para alimentar uma ninhada deles. E a arminda mãe só de uma cria a medir forças com a bicha, a enxotá-la dali para fora e a matar-lhe a ninhada de ratos com ar de embriões minúsculos, roxos e medonhos. Que se naquela casa não há lugar para mais filhos dela, também não há lugar para os filhos dos outros. E a arminda a chorar e a beber chá de hortelã pimenta para enganar a lua, depois de o augusto lhe deitar as pílulas pela janela e lhe chamar desgraçada. E o augusto a indagar porque é que não tem uma mulher como as outras, o augusto sem suspeitar que já teve o ar medonho daqueles ratos a roer a barriga de outra desgraçada, sem suspeitar que a mulher dele é como as outras e que as outras todas são como a lua e que consoante a lua é que são horas de desejar ou de parir.

Indiana

Indiana = Tailandia
Indiana = renda paga
Indiana = boas gorjas
Indiana = horarios de merda
Indiana = baixo salario
Indiana = stress absurdo

poesia do metro II



"Mais votre eau est plus épaisse que jamais ne seront lourdes mes feuilles."


[nao sei quem é o autor]

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