2008

Natal

Amanhã o nomadismes festeja o Natal na Graça (do Senhor)
e em estado de Graça...

;))

ainda a Porta 65

Vamos visitar este blog e assinar a petição para ver se conseguimos alterar esta nova lei. Os jovens precisam de incentivo e apoio ao arrendamento, sobretudo com os valores altíssimos das rendas actuais (especialmente na zona de Lisboa). O Estado tem a obrigação de ajudar os jovens e não de lhes fechar a porta na cara. Faz-te ouvir porque contestar é um direito. As leis injustas podem e devem ser mudadas.

por falar em maleitas

Estas também são más.


*adenda à "lista de mazelas"

da língua Portuguesa

A partir daqui fui parar aqui e achei interessante partilhar.

perceber as coisas

às vezes gostava de perceber as coisas com mais facilidade. Com a desenvoltura de quem estudou anos a fio, ou de quem já nasceu ensinado (apesar do adágio "ninguém nasce ensinado"). De me concentrar numa só coisa, com um só fim. Ler um livro do princípio ao fim sem me aborrecer a páginas meias. Gostava que fosse possível que as coisas fossem percebidas com maior facilidade, como uma espécie de intuição que mostrasse o caminho, que fosse tão certa como as enxaquecas que tenho dia sim, dia não. Perderiam elas o mistério se fossem mais facilmente compreendidas? Ou o segredo reside não na coisa em si própria mas na sua percepção? Nesse caso, gostava de construir a percepção das coisas com mais facilidade.

Jazz moment



O que os meus colocs se põem a ouvir (e me põem a ouvir).

lista de mazelas

- gastroentrite;
- queimadura de 2° grau;
- uma enxaqueca para cada uma;
- 2 menstruações, 1 dolorosa;
- dor muscular na coxa;

mais alguma coisa?

bob & vanda.

80.° Aniversario do Rei Bhumibol da Tailândia

O Rei...




...e as festividades que acontecem por tudo o pais.

A estadia mais breve da Europa II

Desta vez vieste à Holanda, ficaste mais de 2 horas e demoraste 2 dias a ir à coffee shop. Sinais do tempo?
;)

Idalina

Para a Rita

Para o almoço escamavas o peixe com a calma de quem também aprendeu a amanhar os dias. As mãos esfregavam manjerona e segurelha, satisfeitas de polvilhar cheiros que até hoje te intrigam.

«Ainda não tenho tudo da vida, mas para a vida que ainda falta, já tenho tudo. Com a minha mãe na cozinha aprendi o que chegue para nunca passar fome, com os montes aprendi a guiar os animais e a não me perder, coisa que evitou que eu me enganasse com os homens e com os homens aprendi de novo a falar, sem gastar de mais as palavras».

E com o mar, Idalina, o que é que aprendeste com o mar? Com o mar também não te interessa gastar palavras, vale mais gastar os olhos, o nariz e a atenção. Com o mar aprendeste o silêncio. E com o silêncio aprendeste a esperar.

«Normalmente quem tem muita pressa não sabe bem para onde quer ir e também já não sabe a quantas anda. Tempo é coisa que não falta, desde que não se caia no ontem nem se tropece no amanhã».

Porta (fechada) 65 Jovem


Com esta nova iniciativa o governo estabelece rendas máximas para um jovem ser elegível para receber este subsidio.
Para minha grande surpresa, a renda máxima para a região da Grande Lisboa é de 340€, com um aumento de 10% se a casa se situar numa zona histórica.
O desafio passa a ser encontrar uma casa a 374€ numa zona histórica de Lisboa! Vamos a isso? O primeiro a encontrar que me escreva.

Força Comadre!

De tanto pensares acabaste com 5 no projecto!

Votos de sucesso (é, é, é...)

"muff chega de posts doidos... eu despeço-me!"
"pronto, desculpa la... agora a sério,"


No fundo, tudo de bom! afinal, quem faz o que quer, so pode é tar bem.

O entrudo lembrado na Holanda

Ó entrudo Ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro

Que não deixas assentar

as mocinhas ao solheiro


Eu quero ir para o monte

Eu quero ir para o monte

Que no monte é qu'eu estou bem

Que no monte é qu'eu estou bem


Estas casa são caiadas

Estas casa são caiadas

Quem seria a caiadeira

Quem seria a caiadeira

[Zeca Afonso]


Por Malaca, pelo Monte, pelas ruas nómadas e nórdicas (é, é, é...)

aqui também molha

Aqui também já chegou a chuva. Desde Agosto, mas hoje acelerou a velocidade. Como se não bastasse, é domingo. As arvores la fora perdem as folhas e eu perco a paciência. Não dá vontade de sair com este tempo. Nem de ficar. é um tempo de indecisos, de cores que não se definem, de chuva que não se decide a cair toda de uma vez. Também se pode argumentar que esta paisagem castanha tem o seu charme, mas a mim nem sequer me cheira a terra molhada. Não me cheira a nada porque estou constipada por este clima limite nórdico. Ofereço-vos a vista de uma janela holandesa, com o Outono holandês e tudo o que ele acarreta. Se calhar até tem um certo charme, vamos pensar que sim, e esquecer que amanhã é segunda e que vou fazer um passeio pela cidade de D., à chuva, com o meu chapéu-de-chuva preto com bolinhas brancas. Ao menos esse pequeno prazer estético.

Mau tempo em boa hora

Chegou a chuva e já não era sem tempo, a ver se deixamos de ouvir falar em incêndios no Gerês, a ver se as culturas deste país não viram desertos de fome e assim também habituo o meu termostato para a partida parisiense. E o vento uiva aqui no Monte com murmúrios que se arrastam Mouraria a dentro.

le sérieux

"Je deviens quelqu'un de très sérieux. J'ai toujours mes préoccupations sexuelles et existentielles, mais quand' même..."

apego e desapego

"A. tem de lutar para alcançar umas coisas e manter outras, perdendo umas quantas pelo caminho. Porque na sociedade que nos ensina o apego temos que encontrar o nosso equilíbrio nómada."

Esparguete e produção

Curioso como só à terceira refeição de massa seguida é que sinto o trabalho render.

Bad Fish


When you grab a hold of me
Tell me that Ill never be set free
But Im a parasite, creep and crawl I step into the night.
Two pints of booze
Tell me are you a badfish too? are you a badfish too?
Aint got no money to spend
I hope the night will never end
Lord knows Im weak
Wont somebody get me off of this reef

Baby your a big blue whale
Grab the reef when all duck diving fails
I swim but I wish Ive never learned
The waters too polluted with germs
I dive deep when its ten feet overhead
Grab the reef underneath my bed
Its underneath my bed
Aint got no quarrels with God aint got no time to grow old
Lord knows Im weak
Wont somebody get me off of this reef

Gatinhos

Gatinhos Bosques da Noruega! Gatil Aslan's Land tem disponivel uma duzia destes peludinhos!
[um bocadinho de publicidade para a minha Sogry]
;)

Stephen Petranek - TED talks

How the world is probably going to end (& some solutions )

Tuk-tuk de Bangkok

tuk-tuks em Bangkok, capital mundial do Tuk-tuk. "Tuk-tuk miss? Miss, where do you go?"
[foto da Wikipedia]

Tuk-tuk no sul da Tailânda

Este é o modelo mais arredondado, em meu entender, mais cute, comum no sul da Tailândia.

Tuk-tuks em Den Haag

Dá para ver, ali ao fundo, em cima da ponte? São os novos táxis da moda nesta cidade da Holanda...

ideias soltas (em 50min)


"pensar Portugal" José Gil. /


"filosofo nos best-sellers: fenómeno sociológico" JG /

"leio livros e escrevo sobre eles e faço disso um modo de vida" Pedro Mexia. /

associação dos intelectuais aos media /

"dizer não à televisão é quase negar a existência" PM /

programa Olhos nos Olhos, Radio Clube Português, 4 Novembro de 2007

rien faire c'est un métier

"- C'est comme un métier que tu aurais de ne rien faire, d'avoir des femmes, de fumer l'opium. D'aller dans les clubs, à la piscine... à Paris... à New York, en Floride...
- Rien faire c'est un métier. C'est très difficile.
- Peut-être que c'est le plus difficile...
- Peut-être.
(...)
- Dis-moi encore... pour être riche, pour rien faire et le supporter... il faut l'argent et quoi en plus...
- Être un Chinois - il sourit - jouer aux cartes aussi. Je joue beaucoup. (...) Sans le jeu on ne peut pas tenir."

Muffinha, do livro que me emprestaste L'Amant de la China du Nord, da Duras.

Dalai Lama

"I hope that the entire world gets the message that attacking a 72-year-old pacifist Buddhist monk, who advocates nothing more than cultural autonomy for his people, is counterproductive"
Jason Kenney, Canada's Secretary of State for Multiculturalism.

Reuters.

abrir frascos

Estava a pensar escrever sobre a arte de abrir frascos, ou garrafas de agua, e a capacidade que têm estes pequenos gestos de nos pôr fora de nos. Depois de, so nesta semana, ter tido 2 pseudo-ataques de nervos, encontrei este post que me salvou de um desarranjo mental mais evidente. O frasco, conquistei-o com a técnica da colher que parece improvável mas funciona. A garrafa de agua, abri-a à navalhada.

Verdadeiro ou falso

«A verdade, longe de ser um senhor solene e severo, é um servo dócil e obediente. O cientista que supõe estar ingenuamente dedicado à procura da verdade engana-se a si próprio. [...] os mundos são feitos não apenas pelo que é dito literalmente mas também pelo que é exemplificado e exprimido - tanto pelo que é mostrado como pelo que é dito. Num tratado científico, a verdade literal conta mais; mas num poema ou romance, a verdade metafórica e alegórica pode importar mais, porque mesmo um enunciado literalmente falso pode ser metafóricamente verdadeiro».

Nelson Goodman, Modos de Fazer Mundos

Tanto Amor Desperdiçado


Apressem-se, últimos dias de um belo Shakespeare!!!!
É a última semana de espectáculo da peça Tanto Amor Desperdiçado encenada por Demarcy Mota, no D.Maria II. É um espectáculo com uma dinâmica incrível, onde as grandes teorias de Brook parecem ser postas em prática: o espaço vazio num palco com areia a possibilitar um conjunto de movimentos e efeitos cénicos delirantes (atenção para não se sentarem nas primeiras filas onde os salpicos de areia são de fácil alcance); a lembrança de que «o diabo é o aborrecimento» a proporcionar um ritmo exemplar. A encenação é uma verdadeira coreografia e o texto é um belíssimo poema representado por um elenco excepcional que nos fala ora em francês ora em português, numa energia musical que revoluciona o tom declamado shakesperiano. O espectáculo é no seu conjunto tão bom que conseguimos sem grande dificuldade perdoar-lhe e engolir os seus pequenos defeitos. A versão e tradução de Nuno Júdice deixam um bocado a desejar, o final ambicioso e precipitado com um desfecho meio tosco a tentar conjugar com pouca arte o metateatro e a tragicomédia e a actriz Dalila Carmo que com o seu francês quase perfeito e o seu tom quase convincente não consegue abandonar uns quantos tiques novelesco piegas da escola TVI. De resto, é um sólido elenco com uma sobriedade notável, muito equilibrado e verosímil. Apressem-se que vale a pena. Para quem anda por ou perto de terras de França, o espectáculo vai prosseguir na Comédie de Reims.

previsões de vida

Daqui a 1 ano...
  • tenho 26 anos
  • 7 anos de estudos universitarios
  • 2 licenciaturas e 1 mestrado
  • Sei servir às mesas e fazer pesquisas de mercado utilizando o software CATI e NIPO
  • Não tenho dinheiro para comprar umas botas no Inverno.

Cães Vadios


Um novo blog de roupa para cães... modelos: Jimmy & Amélie.

desassossego de Thomas Bernhard

"Quando chego a Nathal, pergunto a mim próprio o que é que faço em Nathal, chego a Viena e pergunto a mim próprio o que é que faço em Viena. Como noventa por cento de todas as pessoas, no fundo quero sempre estar onde não estou, estar no sitio de onde acabo de fugir. Nos últimos anos, esta fatalidade agravou-se, não melhorou, e é com intervalos cada vez mais curtos que vou para Viena e regresso a Nathal e vou de Nathal para outra grande cidade, para Veneza ou Roma, e regresso, e vou para Praga e regresso. E a verdade é que apenas sou feliz quando estou sentado no carro entre o lugar que acabei de deixar e o outro para onde me dirijo, apenas sou feliz no carro e durante a viagem, mas sou o mais infeliz recém-chegado que se pode imaginar, onde quer que chegue, logo que chego sou infeliz. Sou daquelas pessoas que no fundo não suportam nenhum lugar do mundo e so são felizes entre os lugares de onde partiram e para onde se dirigem. Ainda há alguns anos eu acreditava que uma tal fatalidade mórbida teria de conduzir forçosamente, dentro de pouco tempo, a uma loucura total, mas não me conduziu a essa loucura total, preservou-me efectivamente de uma tal loucura, de que tive toda a minha vida o maior pavor."

Thomas Bernhard, O Sobrinho de Wittgenstein.

What is my life really about...*

*'what my life is really about' (correction by Chouriça)

a couple

"Tu vas avoir quatre-vingt-deux ans. Tu as rapetissé de six centimètres, tu ne pèses que quarante-cinq kilos et tu es toujours belle, gracieuse et désirable. Cela fait cinquante-huit ans que nous vivons ensemble et je t'aime plus que jamais. Je porte de nouveau au creux de ma poitrine un vide dévorant que seule comble la chaleur de ton corps contre le mien. "


'They were a very discreet couple, quiet and intense,' remembers Lafaurie. 'They never spoke about themselves in any intimate way. Dorine would let him do most of the talking, but it was she who would bring him down to earth, who had more of an idea of the practical.'


livro Lettre à D. Histoire d'un Amour
artigo no The Guardian

Sossegadinho




















Metro de Paris by Pedro Cancela
(avec Pedro Cancela)

saudades...

insistência

"...Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Porque me repetis: "Vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí..."

José Régio, Cântico Negro (excerto)


Auster (o Paul)

"Bergman e Antonioni não teriam hipóteses hoje"


Sérgio Almeida

Aclamado há mais de uma década e meia como uma das principais vozes da literatura norte-americana da actualidade, Paul Auster, 60 anos, persegue idêntico feito no cinema. Um objectivo que não o impede de considerar a literatura como o seu ofício por excelência. O seu novo romance "Viagens no Scriptorium" já está disponível em Portugal, mas Auster tem já concluído um outro, "Men in the dark"

Na literatura como no cinema, a marca autoral de Paul Auster é inextricável. "A vida interior de Martin Frost", o novo filme do escritor norte-americano, estreia nas salas portugueses já na quinta-feira. A trama labiríntica sobre o poder da literatura tem um toque lusitano produzido por Paulo Branco, o filme foi totalmente rodado em Portugal.

Jornal de Notícias|O semanário francês "L'Express" definia-o há dias como um dos poucos intelectuais que ainda não renunciaram. Sente-se rodeado de desistentes?

Paul Auster| É um comentário altamente lisonjeador, mas estou longe de ser o único que ainda acredita no que faz. Sinto-me rodeado de amigos. Escritores, pintores e cineastas que lutam por transmitir o seu ponto de vista a um mundo que, é verdade, se tem tornado nos últimos anos um local cada vez menos amigável e hospitaleiro para todos quantos queiram fazer verdadeira arte.

Admite, porém, que a renúncia se tornou a via mais fácil para se ser bem sucedido?

Não estou assim tão seguro. Acredito que mesmo um autor de romances populares ou comerciais faz o seu trabalho com grande convicção. De acordo com o que o talento e a imaginação lhe permitem. Chamem-me ingénuo, mas sou da opinião que não é assim tão fácil vendermo-nos. Mesmo para produzirmos algo medíocre temos que acreditar no nosso trabalho.

Terminou há pouco tempo um romance. Tal como o escritor Martin Frost, protagonista do seu novo filme, sente-se vazio e deprimido?

Vazio, talvez. As últimas semanas têm sido tão agitadas que, sinceramente, não tenho tido tempo para estar deprimido... Aliás, já tenho algumas ideias que, espero, conduzam a algo.

Esta sensação de vazio é o que de pior tem o processo criativo?

O pior é mesmo procurar fazê-lo bem. Tentar vezes sem conta até que o resultado seja do nosso agrado. Vivemos com as nossas personagens meses a fio, para não dizer anos, e, quando terminamos o livro, apodera-se de nós esse tal vazio. Ficamos desempregados e questionamo-nos sobre o que iremos fazer daí em diante.

Acusou a crítica norte-americana de revelar preconceitos face ao seu novo filme. Sente-se injustiçado?

A questão não é discordar do facto de quase nenhum crítico ter gostado do filme. Estão no seu direito. O mais grave é perceber que eles não fizeram sequer um esforço para tentar compreender um filme que adopta uma linguagem narrativa da que hoje domina. Desapontou-me, acima de tudo, a preguiça que revelaram. A linguagem cinematográfica está hoje tão centrada em Hollywood que todos os que pretendem seguir caminhos diferentes deparam-se com tremendas dificuldades. Quando Bergman e Antonioni morreram, há poucos meses, pus-me a pensar se eles estivessem a iniciar a carreira agora, não teriam hipótese de fazer aqueles filmes. E, mesmo que tivessem, acho que ninguém estaria interessado em distribuí-los.

A escolha de Portugal como local das filmagens despertou curiosidade, mas no filme não se detecta ligação à realidade portuguesa. Quis que esta fosse uma história universal?

Na minha imaginação, centrei a acção no norte da Califórnia, mas o lugar onde se desenrola a acção é secundário.

A produção de "A vida interior de Martin Frost" foi acidentada, com elementos a cancelarem a participação a escassos dias do início das filmagens. Esses reveses serviram para unir a equipa?

Não há filmes sem problemas. Qualquer que seja a sua envergadura. Por isso, não fiquei em pânico quando perdemos alguns elementos da equipa. Mantive-me calmo, à espera que a sorte viesse em meu auxílio. E a verdade é que, por muito competentes que fossem as pessoas que desistiram, as que as substituíram revelaram-se ainda mais profissionais.

Logo no início do filme, vemos uma série de retratos autênticos da sua família. É o mais próximo da sua intimidade que vemos no filme?

Foi uma decisão prática. Precisava de fotos para a cena inicial do filme e, para evitar o aborrecimento de ter que pedir a amigos, decidi usar algumas das centenas que tenho por casa.

As grandes produções contratam actores para isso.

Sim, mas, com o orçamento que tínhamos, não me podia dar a esse luxo...

Durante a produção do filme chegou ao cúmulo de mudar os puxadores das portas ou escolher os livros certos para uma estante. É tão obsessivo no cinema como na escrita?

Não há diferença. Há que ser perfeccionista e evitar a preguiça. Estar atento a todos os pormenores.

Pelo absurdo que revela, "A vida interior de Martin Frost" tem sido apontada como uma das suas histórias mais kafkianas. Concorda?

Nem por isso. Em Kafka, há sempre uma ameaça há pairar no ar. Aqui, pelo contrário, tudo se confina à imaginação de um homem.

O mundo seria um lugar melhor se os livros tivessem o poder, tal como o filme sugere, de mudar os destinos?

Tenho dúvidas. Os livros são uma experiência privada. Cada um de nós reage de maneira diferente ao que lê. Transportamos a nossa própria vida para o livro e acabamos por moldá-lo às nossas características.

Vê-se, no futuro, a fazer um filme sem um orçamento apertado?

Nem pensar. Se voltasse a fazer tudo de novo, acho que seria numa escala ainda mais pequena. Quanto mais pequeno for o filme maior é o controlo que temos sobre ele.

Está preparado para, no futuro, como já disse, ser conhecido como "o pai de Sophie Auster"?

(risos) Absolutamente. Se isso acontecer, ficarei bastante feliz.



"Algo de estranho se passa no cinema actual"

Figuras do cinema independente como Paulo Branco e Woody Allen queixam-se dos problemas crescentes em angariar apoios O cinema de autor está em risco?

Sem dúvida. Fiquei chocado há dias, ao saber, no Festival de San Sebastian, de cujo júri fiz parte, que o novo e premiado filme de Wayne Wang ainda não tem distribuidor nos Estados Unidos. Há algo de estranho a passar-se.

Culpar apenas o sistema não é uma solução fácil?

Claro que a culpa é colectiva, mas não deixa de ser triste verificar até que ponto hoje tudo se reduz a dinheiro.

Sente-se mais vulnerável às críticas aos seus filmes?

Aos comentários suscitados pelos meus livros não presto qualquer atenção, porque é algo que faço já há muito tempo. Com os filmes é diferente a permanência nos ecrãs é tão reduzida que, se todos emitirem opiniões desfavoráveis, desaparece sem deixar rasto.

A sua experiência no cinema não é pequena já realizou dois filmes e escreveu o argumento de outros dois. Até quando vai continuar a considerar-se um intruso?

Estou longe de ser um iniciado, mas o cinema nunca será algo a que me dedicarei em permanência. Quando muito, será uma área a que regresso ocasionalmente. Acho o cinema estimulante, mas na minha essência sou escritor. Os filmes são apenas uma extensão da minha actividade.

Manoel de Oliveira defende que o cinema é uma arte incompleta quando comparada com o teatro ou a literatura. Sente essas limitações?

Não, pelo contrário. O que o cinema tem de fascinante é conseguir várias artes numa só texto, representação, música, fotografia... É uma arte híbrida.

Mas não será a literatura uma arte mais democrática do que o cinema? Afinal, não está dependente de grandes orçamentos, e é o talento ou imaginação que decidem.

Concordo que os livros nos tocam de modo mais profundo mas os filmes chegam a mais gente e exercem um fascínio colectivo superior.

No Jornal de Noticias.

"a primeira vez que fui à Bíblia"

porque a muffinha gosta e eu acho que também.


Entrevista a António Lobo Antunes (escritor): "A morte é uma puta"

JOÃO CÉU E SILVA
NUNO FOX (imagem) DN.


O escritor surpreendeu os portugueses ao revelar numa crónica que tinha sido operado a um cancro no intestino. Não se coíbe de falar sobre o assunto, até porque a morte é palavra habitual nas páginas dos seus livros, mas comove-se ao relembrar aqueles dias e o pós-operatório. Uma coisa é certa, saiu deste susto um homem diferente e com vontade de ser mais sincero e de outro amar.

A porta que dá entrada na garagem onde escrevia naquela tarde fica no fundo de um beco. António Lobo Antunes enterra-se num sofá preto e pede para começar a entrevista com um certo ar de vamos cumprir o combinado. No fim, dirá que nem deu pelo tempo passar e encaminha-se para a "tasca" onde pede ao empregado o habitual. Desta vez, só deu duas entrevistas para ajudar o lançamento do novo livro - O Meu Nome é Legião. Está a trabalhar no próximo... De vez em quando ameaça que só escreverá mais dois ou três livros. Perdeu a vontade?

Não só não é isso que eu tenho vontade como tão-pouco é uma ameaça. Está muito mais relacionado com o medo de não ser mais capaz de escrever. Aparece a cada livro que acabo e pergunto-me se serei capaz de fazer um próximo. Ninguém que escreva a sério vai poder dizer isso. Também é uma espécie de negociação com a morte, deixa-me escrever mais um, mais dois, mais três... Gostava de ter tempo para escrever outro e arredondar o trabalho, é um círculo que ainda não está completo.

Quantos livros faltam para fechar esse círculo. Só mais um?

Gostava que fossem mais porque o círculo vai aumentando sem nos darmos conta. Eu gostava de viver mais duzentos anos mas é improvável que os tenha.

Sofre muito ao escrever?

Há instantes de intensa felicidade - às vezes sinto as lágrimas a caírem-me pela cara - e momentos de grande irritação porque num dia consigo fazer meia página e no noutro só três linhas. O material resiste, as palavras não chegam, o livro não sai. Normalmente as primeiras duas, três horas são perdidas, os mecanismos sensórios ainda estão muito vivos. Então, quando começo a estar cansado, as coisas começam a articular-se com mais facilidade. É como quando estamos a dormir e de repente temos a sensação de termos descoberto os segredos da vida e do mundo, mas sabemos que estamos a dormir. Lutamos para acordar e quando chegamos à superfície não temos nada, diluiu-se enquanto fomos subindo. Quando consigo um estado próximo dos sonhos é muito mais fácil trabalhar e só o tenho estando fatigado.

Já experimentou algumas substâncias para atingir esse estado artificialmente?

Nunca tomei drogas, nunca apanhei uma bebedeira na vida. Não bebo café, não me dá prazer. Acho que o único vício que tenho é fumar.

Portanto, é bem comportado?

Não é uma questão de comportamento, em casa dos meus pais não havia vinho à mesa, só água. Eram muitos filhos...

É normal os filhos romperem hábitos!

Não havia vinho à mesa da mesma maneira que a roupa passava de uns para os outros. Os meus pais deram-nos uma educação de grande austeridade, não tinham muito dinheiro.
Quando faz o julgamento da convivência com a vida acha que ambos se dão bem?

Nunca me pus esse problema, tenho tentado viver o melhor que posso. Fiz certamente muitos erros e continuarei a fazer - espero que menos - mas nós não fomos feitos para a morte, fomos feitos para a vida e sempre me custou ver o sofrimento alheio. Quando fazia muita medicina, não era só o sofrimento que custava mas a minha impotência para com ele. Acho que as pessoas não foram feitas para a morte mas para a vida e para a alegria.

Mas não há escapatória para a morte!

É mais simples do que se pensa. Este ano, tive um problema de saúde e sofri isso na pele, acho que o problema está ultrapassado mas foi um ano duro. E a minha atitude era sobretudo de espanto, e a minha preocupação era ter uma atitude digna e não cobarde. Vi pessoas com uma coragem extraordinária e aprendi com elas lições de vida, coragem e dignidade. As pessoas comportavam-se como príncipes perante a situação e eu pensava estou aqui com pessoas que são melhores do que eu, com uma imensa dignidade no sofrimento. Isso foi uma coisa que me comoveu muito e fez pensar que vale a pena viver entre os homens e com eles. Todo o sofrimento é injusto... Em nome do quê é que uma criança de três anos morre com um cancro ou uma leucemia? É muito injusto, qual a razão disso? Sempre me intrigou a razão deste sofrimento porque o do interior tê-lo-emos sempre. Estamos carregados de dúvidas e certezas e as perguntas que nos fazemos ficam muitas vezes sem resposta. Porque vivo assim, em que falhei e magoamos pessoas sem darmos conta com uma frase que para nós é completamente anódina. Julgo que o segredo é estarmos atentos aos outros mas frequentemente não estamos e, sobretudo, não reparamos que são diferentes de nós. Daí o problema de escrever, como colocar em palavras coisas que por definição são anteriores às palavras? Como tentar cercá-las com palavras? Há zonas em mim que desconheço, portas que nunca abri e que, no entanto, aparecem nos livros e provocam-me uma certa perplexidade ao querer saber de onde é que isto vem, de que profundidades nossas, que todos temos.

Por isso resguarda tanto a vida privada?

Ela não tem importância nenhuma, só a mim me diz respeito. Quando fui operado escrevi essa crónica sobre o cancro porque já havia tanto jornalista e gente à volta do hospital que resolvi ser eu a dizer: Tenho um cancro no intestino. Não me deu prazer nenhum dizê-lo e garanto que não me deu prazer nenhum tê-lo. O pós-operatório foi horrível e duro, felizmente tive a sorte de ter um grande cirurgião e de todos os que lá trabalhavam serem de uma grande delicadeza. Só tenho gratidão.

O cancro está controlado?

Está controlado, neste momento o que faço são revisões periódicas. Claro que pode haver uma surpresa - pode haver sempre! - mas até agora tem estado tudo bem. É óbvio que na véspera de uma revisão estou tenso e fico assim até saber o resultado mas também sei que se houver um problema o Henrique (o cirurgião) vai lá e resolve-o. Preciso de tempo, preciso desse tempo, preciso ainda de trabalhar.

Está a lutar contra a morte apesar dela estar sempre presente nos seus livros...

Espero que a vida também! É inútil lutar contra a morte tal como é inútil lutar contra a vida. É inútil porque a morte é uma puta - desculpem o palavrão mas é a única palavra que encontro. Quando o meu pai morreu, o padre que foi rezar a missa disse que detestava aquilo porque nós não fomos feitos para a morte. De facto não fomos... Há pessoas de quem gostávamos e que já não podemos tocar e ver e cuja morte foi tão injusta. Ainda no sábado fui a enterrar um camarada da guerra que morreu num acidente de automóvel. Foi muito comovente ver aqueles homens duros, que fizeram a guerra, a chorar como crianças. Eu chorei também, gostava muito dele e agora quando nos reunirmos ele não vai lá estar. E não faz sentido que o Zé não esteja. Eu tenho que viver pelo meu pai, pelo Cardoso Pires, pelo Melo Antunes, estão dentro de mim até eu acabar.

Como contrariar a morte?

Ela corre mais depressa do que qualquer um de nós e a única coisa que posso fazer para contrariar é escrever, a única duração que posso ter é a que os livros tiverem. E aborrece-me que seja assim, é injusto que seja assim, embora haja momentos em que todos nós desejamos morrer, de desânimo e solidão. Há momentos em que quase temos inveja dos mortos porque a vida nem sempre é agradável e fácil mas, agora depois de ver as pessoas lutarem no hospital, senti que muitos pensamentos que tinha eram indignos perante tanta grandeza.

Isso alterou a sua forma de ser?

Eu agora jogo com as cartas para cima, está tudo à vista porque é a única maneira de viver. Demorei anos a perceber porque o conhecimento da vida chega sempre tarde e pensamos que ocultando conseguimos dar boa imagem aos outros. Agora é: eu sou assim! Peguem, larguem, não posso ser amado pelo mundo inteiro embora a sede de amor seja inextinguível. |
Qual é a sua atitude perante Deus?

Existe um velho provérbio húngaro que diz que na cova do lobo não há ateus, por isso julgo que não existe quem não acredite. O nada não existe na física ou na biologia e quando se lêem os grandes físicos entende-se como eram homens profundamente crentes, que chegaram a Deus através da física e da matemática e que falavam de Deus de uma maneira fascinante. A minha relação é a de um espírito naturalmente religioso, cada vez mais, não no sentido desta ou daquela igreja mas porque me parece que a ideia de Deus é óbvia. Cada vez mais o é para mim. É um bocado como diz Einstein, quando afirma que Deus não joga aos dados.
Como é essa relação?

É claro que me zango com Deus porque permite o sofrimento, mas talvez os seus desígnios tenham tais profundezas que não atinjo. O sofrimento sempre me foi incompreensível porque nascemos para a alegria. A minha atitude em relação à religião é essa, não estou a falar de igrejas, estou a falar em relação a Deus e não acredito quando as pessoas dizem que são agnósticas ou ateias. Não estou a dizer que a pessoa não esteja a ser sincera, mas dentro dela e em qualquer ponto há algo... Uma vez perguntaram ao Hemingway se acreditava em Deus e a resposta foi às vezes, à noite.

Então à noite também acredita?

Acredito sempre mas a dúvida e pôr constantemente em questão é próprio da fé. Muitas vezes pergunto-me será que existe? É óbvio que sim.

Recentemente foram reveladas as dúvidas de madre Teresa sobre a sua própria fé...

Todos os teólogos as tiveram, Sto. Ambrósio dizia "não busco compreender para crer, creio para compreender"; Sto. Agostinho esteve cheio de dúvidas toda a vida e o Sto. António... O mesmo se passa em relação aos livros, pergunto-me será que isto está bem feito? Não é esta palavra ainda, será que é possível fazer aquilo que eu quero fazer ou será demasiado ambicioso?

O título do seu último livro vem da Bíblia?

Estava a passear no Evangelho e apareceu-me. Foi a primeira vez que fui à Bíblia, não tinha título nenhum, não sabia como havia de o chamar e de repente tropeço naqueles versículos do Evangelho de São Lucas e pensei: é isto.

A sua formação em Psiquiatria não lhe dificulta a convivência consigo próprio?

Se os psiquiatras compreendem a mente humana? Não, isso é a vida que nos ensina a entender os outros. Algumas das pessoas mais cultas que conheci eram analfabetas e algumas das coisas mais profundas que ouvi foram ditas por pessoas de pouca instrução. Uma mulher disse-me uma vez 'quem não tem dinheiro não tem alma'.

Quando está a escrever nunca se sente como se estivesse no divã a tirar coisas de si?

Eu nunca deitei ninguém em nenhum divã e se o fiz ao longo da vida foi para me deitar lá também, não era para ficar a ouvi-la falar. A sensação que tenho é que estamos na idade da pedra do conhecimento, do entendimento humano e das emoções. Não sabemos nada, eu pelo menos sei muito pouco. Isto só tem a ver com a humildade, não sou vaidoso, apenas tenho orgulho. Sei mais ou menos qual é o meu lugar enquanto escritor e o resto da minha vida não é importante, falar da minha vida privada não tem importância nenhuma, os livros sim podem ser importantes mas eu até acho que todos deviam ser publicados anonimamente, sem nome de autor. Isso eliminaria imensos problemas.

Aqui

"Fui cobarde tempo de mais" (continuação da entrevista a António Lobo Antunes)

Neste livro O Meu Nome É Legião há uma violência constante?

Não sou eu que a trago, a violência é inerente à situação do livro.

Preocupa-o essa violência quase selvagem num mundo civilizado?

Se é selvagem, o mundo não é civilizado.

Como vê uma realidade com que não é obrigado a conviver?

Era mais ou menos inevitável que isto acontecesse num país onde o abandono, a desigualdade social e a miséria são tão grandes. Com o estrangulamento da classe média era inevitável.

Acha que o Governo devia ter outra atitude?

Não tenho nada que achar porque não sou Governo nem quero ser mas, obviamente, acho que devia haver maior atenção para isto. A partir da altura em que as desigualdades se tornam gritantes é claro que estas crianças são empurradas para a delinquência.

Houve um tempo em que teve militância política. Os partidos terão resposta para estas questões?

Não sei responder mas se achasse que era útil ainda continuava a tê-la. Sou demasiado individualista e rebelde para aceitar uma disciplina partidária, além disso as opções políticas são tão afectivas como as opções clubísticas. Há pessoas de direita mais democratas que as de esquerda, há partidos de esquerda mais conservadores, as ideologias foram-se dissolvendo e a maior parte dos partidos são frentes e aqueles que ainda têm ideologia, ela está caduca. O único partido que vejo com corpo ideológico mais ou menos coerente é o Partido Comunista mas é de um tempo que já não existe. As conquistas de Abril, onde estão? Foram importantes mas passado todo este tempo...

Acha que este Governo é culpado?

Não sei e não estou preparado para responder mas se houvesse eleições - votei muito poucas vezes na vida - e fosse votar era no partido que está no Governo, porque não vejo alternativas.

Por ser o partido que está no Governo ou por ser o Partido Socialista?

Não me parece que este seja o PS do Mário Soares, o que foi fundado em 1973...

Não lhe parece porquê?

Pela prática e pela teoria, mas posso estar enganado.

Conseguiu terminar o livro mas os problemas destes jovens não se resolvem!

Não me compete a mim, sou só um escritor. Esta pergunta terá que ser feita a outro tipo de pessoas, dos que têm respostas para tudo.

Mas se a sua mão seguiu esse caminho foi porque a cabeça também o exigiu?

Eu queria falar era da vida toda, nunca imaginei que saísse assim, nunca estive nestes bairros e nunca conheci estes miúdos. O problema é que não pertencem a parte nenhuma, nasceram cá mas não ganharam Portugal e os pais perderam África. Às vezes comovia-me com a dificuldade de viver deles.

Há frases no livro que revelam racismo!

Pelo menos esses brancos do livro assim o pensam. O racismo é inevitável, vem do medo e do desconhecimento... Às vezes penso que muitas pessoas são como os liberais americanos que dizem dos negros és meu irmão mas nunca serás meu cunhado. Sempre me interroguei porque vi o racismo contra nós portugueses em países como a França. Quando fui receber uma condecoração a Paris, um dos membros do Governo disse-me que pensava que fosse espanhol e ao saber respondeu-me: 'É português. É engraçado a minha mulher a dias também.' Isto é profundamente racista, eu estava ao nível da empregada e ao mesmo tempo ali a receber uma condecoração do Presidente.

Há também uma mulher que lamenta não ser branca!

Da mesma maneira que os pobres gostariam de ser ricos, que alguns queriam ser saudáveis... No fundo, o que ela estará a dizer é que gostaria de ter determinados privilégios que no entendimento dela os brancos têm. Mal sabe que o racismo existe entre as várias classes sociais e continua a ser marcante no nosso país.

Mas a desigualdade e a violência preocuparam-no mais neste livro?

Claro que me preocuparam mas sempre houve e até os escritores estabelecem hierarquias ao nível social, para não falar ao nível da literatura. Mas também quantos grandes escritores há hoje em dia a escrever? Três ou quatro no mundo inteiro já não é nada mau, estamos muito longe do século XIX quando havia trinta génios ao mesmo tempo.

Não receia que o seu universo fique desajustado da realidade em que vivemos?

Nunca pensei nisso. Falamos do universo ficcional? Não sei, vivo neste tempo e a realidade é uma coisa que não existe - é muito subjectiva - mas é neste tempo que eu vivo e este é que me foi dado a ter.

Muitas das referências ideológicas do início da sua carreira desapareceram?

Em grande parte por nossa culpa, não fomos suficientemente sedutores para a juventude e refiro-me à participação cívica. Agora, há a ideologia do imediato, do eu quero ser célebre, famoso e rico, jovem e bonito, vive-se uma época de adolescentocracia, o que para mim é repugnante. Uma das minhas filhas esteve em Itália a estudar e as colegas de 17/18 anos quando acabavam o liceu pediam aos pais uma plástica como presente. Houve uma enorme quantidade de valores que a publicidade trouxe e que são seguidos por muitas pessoas.

Nas suas viagens tem medo do terrorismo?

Quando estive em Bogotá era sempre levado por trajectos diferentes porque as pessoas são raptadas na rua em troca de resgates. Fui cobarde tempo de mais para continuar a sê-lo, já não tenho medo. É uma coisa horrível a cobardia, foi em África que me libertei disso tudo, onde aprendi a existência dos outros. Eu nunca teria sido um escritor se não tivesse tido aquela experiência, que mudou muito a minha vida e fez-me perder a concepção ptolemaica do mundo. Passei a faculdade a jogar xadrez, a escrever e a ler, os movimentos estudantis de revolta contra a ditadura passaram-me ao lado por desinteresse e cobardia minha. Tinha medo da polícia, que carregassem na manifestação. Na guerra eu ofereci-me para várias coisas, justamente para me vencer a mim mesmo, para não me envergonhar. A coragem talvez seja uma das formas supremas da elegância e isso os nossos soldados tinham.

Mais alguma vez se sentiu cobarde?

Não.

O sucesso precoce atormentou-o?

Fiquei de boca aberta porque o livro tinha sido sempre recusado. Fui de férias e quando voltei o livro estava por todo o lado e a vender. Foi um espanto, nunca imaginei isto como também o que tem acontecido noutros países. Ainda agora, quando estive doente, vieram milhares de cartas de portugueses. Nunca imaginei que as pessoas fossem tão generosas comigo, dei-me conta que os livros eram importantes para muita gente e acho que não o mereço. Em nome disso tenho a obrigação de dar livros que sejam bons.

Não tem medo de desiludir?

Claro que tenho. Não gostaria nada que estas pessoas que se deram ao trabalho de me escrever ficassem desiludidas com o livro. Afinal, este homem não vale nada e eu gostava dele.

Muito do seu escrever actual é feito de uma reescrita, um livro procura o outro...

Sente isso? Eu queria neste livro dar tudo por tudo e foi um livro que me deu prazer e indignação. Porque estes miúdos que eu não conheço estão à procura de carinho mas não sabem como dá-lo. Do meu ponto de vista, tenho melhorado de livro para livro, sei que nunca vou conseguir lá chegar mas estou mais perto daquilo que queria escrever. Acho que marca um progresso em relação ao livro anterior e espero que o que estou a escrever marque um progresso em relação a este. |

Não vê televisão, quase não lê jornais mas quando se começa a ler o livro faz lembrar uma notícia!

Na minha cabeça era um relatório de polícia mas não sei como são porque nunca li nenhum.

Mas aquele início é de quem lê jornais...

Não tenho muito tempo e depois se o vejo fico perdido a ler o jornal. Houve uma altura em que lia A Bola todos os dias... Da televisão, fui-me afastando à medida em que também o fazia do Benfica. Agora já não vejo jogos de futebol, desde que deixou de ser um desporto...

Este Benfica já não o atrai?

Claro que me atrai, continuo a gostar do Benfica mas quando eu era miúdo o lar dos jogadores do clube era ao pé de casa dos meus pais e eles desciam a rua com o fato civil e o emblema na lapela... Era impensável que o Coluna ou o Eusébio fossem jogar para o Sporting ou que o Travassos jogasse no Benfica, eles eram daquele clube. Agora é uma indústria, são sociedades anónimas, deixou de ser um desporto. Os treinadores dizem é preciso paciência, o que é o contrário do desporto e todo o lado lúdico que me interessava deixou de existir, sendo substituído por uma eficácia de marcar golos e de ganhar por interesses económicos. Lembro-me de ter lido uma entrevista do Jesus Correia há muito anos em que ele dizia que o seu doping era o arroz doce que a mãe lhe fazia. Ainda havia aquele prazer como se encontrava no Brasil, de fintar e voltar atrás, como o Garrincha fazia.

Não pára o livro para ver um jogo do Benfica?

Não, já não. Tenho muita pena.

Mas teve conhecimento do murro do Scolari?

É-me completamente indiferente. Não acho normal nem anormal, é-me indiferente. Nem sei se deu o murro... Vi na televisão, foi uma patetice e não comento patetices.

Uma patetice de quem?

Eu não sei o que se passou. Vi o homem estender a mão mas aquilo nem me pareceu um murro, porque se eu der um murro não é assim.

E considera normal que José Mourinho tenha mais biografias do que a maior parte dos escritores portugueses?

Acho natural. José Mourinho atrai mais que Camões ou Shakespeare, as pessoas vivem cada vez mais no sentido hedonista. Não me repugna nada, nem me faz diferença, porque não é isso que tira o público dos livros. As pessoas continuam a comprar livros, portanto esta situação não me incomoda nada.

Um dos prazeres que tinha era dançar. Como é que isso vai de danças?

Não tenho tempo agora.

E tem par?

Isso de arranjar par não deve ser complicado.

Continua a ouvir música?

Tenho problemas de audição e praticamente já não ouço música porque os sons vêm distorcidos.

Disse uma vez que preferia ouvir a Ágata ou Emanuel aos Madredeus?

Disse isso? Eu nem sei bem... Não me recordo de o ter dito, deve ter sido uma boutade. Se me perguntar o nome de uma música desse conjunto não sei mas também não sei dessas outras pessoas referidas.

Mas do jazz continua a gostar?

Não tenho ouvido mas claro que gosto muito porque enquanto escritor aprendi muito com os músicos de jazz a escrever. Pensamos que são os escritores que nos ensinam a escrever mas é mentira, pode ser um fotógrafo, pode ser um músico...

O jazz marcava-lhe o compasso da escrita?

O Charlie Parker fraseava maravilhosamente, aprende-se muito a ouvi-lo.

Também deixou de ir ao cinema?

Muito pouco agora. Vou muito pouco.

E policiais, ainda lê?

Gosto e durante muito tempo tive preconceitos idiotas face à literatura policial. Depois percebi que todos os livros são livros policiais, que têm coisas técnicas que se podem usar e ser muito úteis - a retenção da informação, a informação lateral - e aprendi muito com a sua estrutura.

Algumas mulheres acham-no machista no que escreve?

Não sei, se pensam isso parece-me injusto. Não sei que espécie de gente poderá dizer isso, eu gosto tanto das pessoas ...

Como é o seu dia?

Começo às 10.30 e trabalho até às 13.00. Volto a escrever entre as 14.00 e as oito. Das nove até às onze continuo. Sábados e domingos também.

Não folga ao fim-de-semana?

Dou-me umas horas ao sábado como aos magalas. Enquanto estive internado não escrevi e foi muito difícil recomeçar porque pensava que tinha perdido o livro. Para mim é muito importante fazer isto como um trabalho diário.

Como é que escreve?

À mão.

O computador é impensável para si

Não tenho computador, nem o sei abrir. Gosto de desenhar as letras. Uso os mesmos processos desde o primeiro livro, faço duas versões de cada capítulo, passo para o capítulo seguinte até ao fim, isto demora um ano ou um pouco mais, depois espero quinze dias para começar a rever e quando leio aquilo surpreende-me que tudo se articule.

No DN

PSL




tinha que postar isto...

Manter a Historia

ASSINAR AQUI A PETIÇÃO PARA MANTER A REVISTA HISTORIA



Revista História suspensa por falta de apoios oficiais

A publicação da revista História, cujo número 100 saiu esta semana, irá ser suspensa devido a dificuldades financeiras, disse hoje à Lusa o seu director-adjunto, Luís Farinha.

«Foram-nos retirados dois apoios oficiais fundamentais para uma pequena publicação como a nossa, nomeadamente do ex-Instituto Português do Livro e das Bibliotecas [actual Direcção-Geral do Livro e da Leitura] e o fim do Porte Pago», indicou Luís Farinha.

Segundo o historiador, «o fim do Porte Pago foi decidido por o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ter considerado que a História não era uma revista científica».

«Esta decisão retoma a questão entre a 'História pura' e a 'História divulgação'. Nós somos uma revista de divulgação científica com qualidade e rigor«, sublinhou, afirmando-se »confiante no regresso aos leitores dentro de dois meses, com novos apoios, tanto de entidades públicas como privadas e com uma renovada imagem«.

O mesmo responsável assinalou ter havido já entidades »que se disponibilizaram para apoiar futuramente uma revista que existe há 30 anos no mercado português e que conta mil assinantes«.

A equipa da revista irá prosseguir o ciclo »Conversas com História« que quinta-feira reúne vários historiadores na FNAC do Chiado, em Lisboa, para falarem de Afonso de Albuquerque e o Oriente.

Para finais de Outubro está previsto, »já sem os apoios oficiais«, uma edição especial dedicada à Revolução Russa de 1917.

Entretanto, circula na Internet um abaixo-assinado no sentido de »não se deixar morrer uma publicação que tem mais de 30 anos de história«.

O abaixo-assinado (http://www.petitiononline.com/mod_perl/signed.cgi?magazin) reuniu até ao momento cerca de 150 assinaturas.

Ouvida pela agência Lusa, a historiadora Alice Samara considerou »preocupante o encerramento de uma publicação que dá ao público em geral, de uma forma séria e rigorosa, um panorama do avanço científico da historiografia«.

Por outro lado, sublinhou, »a revista é um viveiro para os jovens historiadores, a maioria é através dela que vêm publicados pela primeira vez os seus trabalhos«.

Alice Samara, que colaborou já várias vezes com a História, afirmou-se »confiante« no regresso, »ainda com mais força«, da revista.

A revista História, com uma tiragem de 10.000 exemplares, tem periodicidade mensal. A capa deste mês é dedicada aos painéis de Nuno Gonçalves.

A Carta de Pêro Vaz de Caminha, apresentada como a primeira reportagem sobre o Brasil, as influências de Napoleão Bonaparte em Portugal e ainda uma entrevista com o historiador José Mattoso completam esta centésima edição.

Diário Digital / Lusa

26-09-2007 14:04:00

Esperança


de um dialogo possível.

Edison Machado

Uma chamada de atenção a um blog dedicado ao baterista brasileiro Edison Machado.

Nas palavras do autor: "Nosso objetivo é apenas divulgar o trabalho do maior baterista brasileiro de todos os tempos. Estamos disponibilizando todas as obras que estão fora de catálogo. Pretendemos disponibilizar os videos em que o Edison aparece (...)".

é um blog fantastico, se alguém encontrar um igual dedicado ao guitarrista Luiz Henrique, que me avise.

Thomas Barnett: The Pentagon's new map for war and peace

A melhor das comunicações... Mesmo sem perceber tudo o que ele diz, gostei de ver como o diz.



Anand Agarawala: BumpTop desktop is a beautiful mess

Zeresenay Alemseged: Finding the origins of humanity

On my way [km 15]


aqui ha gato...

A Shanti é a mai linda!

Dylan

No Plataforma de Berna...

The Green Deal in Cambodia

A Deforestation in Cambodia Documentary by Global Witness

This documentary provides an overview of the extent of deforestation and their consequences on life and the environment in Cambodia. It also points out the culprits involved in this ecologic tragedy.









Relatorio da Global Witness

http://www.globalwitness.org/pages/en/cambodia.html

la forêt cambodgienne

Les pillards de la forêt cambodgienne

LE MONDE | 03.09.07 | 15h27 • Mis à jour le 03.09.07 | 15h27
KRATIE (CAMBODGE) ENVOYÉ SPÉCIAL

De Kratie, sur la rive orientale du Mékong, dans le centre du Cambodge, une magnifique route file vers le nord en direction de la frontière laotienne. Elle l'atteindra, sur l'autre rive, une fois achevé un nouveau pont franchissant le fleuve. C'est "la route chinoise", construite depuis plusieurs années par les ingénieurs civils de la République populaire. Quelque 1 000 kilomètres plus au nord, l'ouvrage rejoindra le réseau de routes réalisé par Pékin, depuis la fin du XXe siècle, au Laos septentrional, pour finalement atteindre la frontière de la province chinoise du Yunnan.


C'est, de loin, la voie de communication la plus moderne du Cambodge et du Sud laotien. Un outil idéal de désenclavement pour les échanges terrestres avec le sud de la Chine et, pour celle-ci, un accès routier direct au port cambodgien de Kompong Som (Sihanoukville), sur le golfe de Siam.

Mais, pour l'heure, les premiers utilisateurs de cet axe n'ont guère en tête le développement de cette contrée déshéritée, qui vit principalement des ressources du Mékong, modérément navigable en cette partie de son cours. Ce sont surtout les prédateurs de la forêt tropicale qui se sont installés. Des centaines de cahutes de bambou sur pilotis sont apparues sur les bas-côtés. Elles abritent des hommes armés d'instruments de coupe de bois et leurs familles. Un peu plus loin, on les voit recevoir les instructions de leurs employeurs. Objectif : organiser des campagnes de déforestation plus ou moins légales et bien éloignées des promesses faites à la communauté internationale par le gouvernement en vue de préserver la forêt tropicale.

En juin, l'ONG Global Witness, basée en Grande-Bretagne, a produit un rapport accablant, de près de 100 pages, principalement consacré aux pratiques en matière d'exploitation de la rente forestière par les réseaux affairistes entourant le premier ministre, Hun Sen, l'homme fort du royaume. Intitulé ironiquement "Les arbres généalogiques du Cambodge", le rapport met en cause plusieurs proches de M. Hun Sen : son épouse Bun Rany ; un cousin Dy Chouch (dit Hun Chouch) ; divers membres de la parentèle, couples amis, relations d'affaires... et le ministre de l'agriculture et des forêts, Chan Sarun.

Global Witness avait été autorisée, par le gouvernement, à ouvrir une représentation au Cambodge afin d'officier en qualité d'observateur indépendant, sur le terrain, des efforts consentis en 1999 par M. Hun Sen, sous la pression des instances internationales, en vue de mettre de l'ordre dans cette activité lucrative.

"Au vu de la détérioration de la situation au plan de sa sécurité, (l'ONG) a fermé son bureau de Phnom Penh en septembre 2005." Les informations du rapport recueillies par ses employés et volontaires expliquent cette mesure : c'est une fresque noire où s'accumulent pratiques de népotisme, attributions illégales de droits, intimidations musclées, enlèvements physiques de rivaux, assassinats d'agents d'ONG. Le tout forme un faisceau convergeant vers une cabale de "barons du bois", occupés à piller l'une des dernières réserves d'essences tropicales précieuses.


Des gardes-forestiers à la recherche de coupeurs de bois clandestins dans une forêt au Cambodge en octobre 2002.


La rapidité du phénomène est frappante. Selon la FAO, le Cambodge aurait perdu 30 % de sa forêt primaire entre 2000 et 2005. La surface boisée totale du pays, selon des experts cités par d'autres sources, serait passée de 75 % dans les années 1980 à moins de 50 %. Faux, réplique M. Hun Sen : elle était, dit-il, de 58 % en 1997 et était déjà remontée à 61 % en 2002. Le premier ministre y voit le résultat de sa politique ayant permis de mettre fin à l'insurrection des Khmers rouges, au pouvoir de 1975 à 1979, eux-mêmes grands prédateurs forestiers - mais aux moyens réduits. Comme en d'autres pays, la forêt tropicale cambodgienne, temple de biodiversité, a nourri le cycle guerre- contrôle des ressources-guerre...

Aujourd'hui, les choses sont plus institutionnalisées. En deux décennies, des compagnies aussi puissantes qu'opaques - Cherndar Plywood, Mien Ly Heng, Kingwood Industry, Everbright CIG Wood - ont mis la main sur les exclusivités d'exploitation. Elles associent souvent des acteurs locaux aux intérêts d'affaires régionaux : Singapour, Indonésie, Taïwan, et, nouvelle venue, la Chine populaire. De temps à autre, l'une est énergiquement persuadée de céder ses intérêts à une nouvelle firme montante. Lia Chun Hua en a notamment fait les frais. D'origine chinoise, l'ex-directeur exécutif de Kingwood, est retenu en otage, depuis août 2002, au siège de sa compagnie, à une vingtaine de kilomètres au nord de Phnom Penh. Il serait toujours en vie après avoir signé tous les papiers cédant les avoirs de la firme à Seng Keang, ex-épouse du cousin de M. Hun Sen et amie de la femme du premier ministre...

Les volumes débités peuvent être considérables. En mai 2004, selon l'ONG, le ministère de l'agriculture a ainsi commandé à un exploitant de Taïwan une quantité de fûts d'arbres précieux permettant de recouvrir l'équivalent de 1 580 courts de tennis. Ce bois était destiné à fabriquer le mobilier et décorer la nouvelle Assemblée nationale.

Des schémas gouvernementaux sont montés de toutes pièces, hors du contrôle du Parlement, pour asseoir le système, selon Global Witness. Une plantation d'hévéas de Tumring a été inaugurée en fanfare, en 2001, au coeur de la forêt de Prey Long, au centre nord du pays, la plus vaste forêt d'essences à feuilles persistantes en basses terres d'Asie du Sud-Est. Six ans plus tard, la "plantation" n'a pas produit une goutte de résine de caoutchouc mais la forêt est très entamée. Pourtant, M. Hun Sen avait assuré à la population conviée à la cérémonie d'ouverture : "Jamais je ne vous escroquerai !" En 2006, l'exploitant principal, la Colexim (associée à une firme Okada, du Japon) et le gouvernement préparaient des plans pour de "nouvelles plantations d'hévéas" dans le secteur.

Sur environ 5 000 km², Prey Long est à la fois un vaste réservoir de biodiversité et un régulateur hydraulique important à proximité de l'immense lac Tonle Sap, poumon écologique et économique du Cambodge. Selon des experts de la Banque mondiale, le taux d'exploitation de la forêt cambodgienne est plus de cinq fois supérieur à celui qu'elle peut supporter.

En aval des coupes légales ou sauvages, tout un échafaudage de prestations (transformation partielle, transports, export) s'est monté, souvent à l'aide de sous-traitants. Au coeur de ce dispositif, selon Global Witness et d'autres sources indépendantes, la Brigade 70, une unité militaire inféodée à M. Hun Sen, qui loue à bon prix ses camions pour les transports illicites, entre autres services. Un "syndicat criminel multi-activités", affirme l'ONG.

En juin, le rapport a fait une victime collatérale. Pour en avoir publié des extraits, le quotidien Cambodge Soir a été fermé. C'était le seul quotidien d'informations générales financé par la francophonie dans la région.

Francis Deron

Memoria del Saqueo (2004)

Um dos meus filmes preferidos, que mostra a crise economica argentina de 2002.






Segunda parte AQUI

Solanas

Le cinéaste argentin Fernando Solanas se présente à l'élection présidentielle

LE MONDE | 01.09.07 | 14h22 • Mis à jour le 01.09.07 | 14h22
[extractos]

Nous sommes les héritiers des assemblées populaires qui, pendant la crise argentine de 2002, exigeaient que tous les politiciens s'en aillent", explique le cinéaste argentin Fernando "Pino" Solanas. A 71 ans, il vient de lancer sa candidature à l'élection présidentielle du 28 octobre.

A la tête de Projet Sud, qui regroupe des socialistes, des syndicalistes et des représentants du centre-gauche, M. Solanas revendique "une plus grande démocratie, une profonde réforme fiscale et la récupération des ressources naturelles de l'Argentine".


Il critique le gouvernement péroniste de Nestor Kirchner, qui représente, selon lui, "la continuité du modèle libéral mis en place, dans les années 1990, par l'ancien président péroniste Carlos Menem, avec la privatisation du pétrole et du gaz, la vente incontrôlée des terres de l'Etat, la criminalisation du mouvement social et aucune redistribution de la richesse, alors que la croissance est de 8 % à 9 % depuis quatre ans". (...)

"Mes films sont inséparables de la politique", note-t-il. Lors de la chute du président De la Rua, chassé du pouvoir par les émeutes populaires, en décembre 2001, le cinéaste sort dans la rue, sa caméra numérique sur l'épaule. Son témoignage débouche sur une série de documentaires, dont La Dignité du peuple (2006), consacré aux nouvelles formes de lutte des laissés-pour-compte.

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Paris.

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