Não se levanta por serem horas, não se levanta por lhe doer o corpo esmurrado e violado, nem sequer é o desdém que sente pelo corpo que ronca na mesma cama. é o cheiro a vinho destilado que invade o quarto. é o cheiro a ressaca, é o sono pesado que a fazem levantar. habituou-se a levar pancada, habituou-se a carregar aquele corpo trôpego três andares a cima e até se
habituou a calar-lhe os gritos para os miúdos não ouvirem. tem costas largas e ancas de mãe. mas o olfacto atraiçoa-a. são cinco da manhã e conceição desce de mansinho. vai cheirar a manhã, vai abrir as portadas e espreitar os humores de portimão nesse dia. ainda é cedo para ir à praça, ainda é cedo para acordar os miúdos, ainda é cedo. e é nessas horas mortas que se põe a cismar, não fossem essas horas, não fosse aquele cheiro a fazê-la descer, olhar a manhã sozinha e cismar...
onze anos passados os vizinhos em lisboa sussurram nas suas costas a sua valentia. uma mulher que deu à sola sozinha com quatro filhos atrás. Ela ouve-os antes de apanhar o eléctrico para ir à Baixa. E sorri a cheirar outras manhãs, noutra cidade e a lembrar que a coragem não veio das mãos a carregar os filhos e a máquina de lã. bravo foi o nariz que a fez partir.
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4 nomades:
mulher bravia...
:)
só podia ser texto da MÃE...
Muy bien!!!
Adorei.
Bjs gdes
tens uma aptidão especial para descascar grandes humanidades com poucas palavras.
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