Estou a aplaudir sem sentir as mãos, aplaudo em instantes de autómato. Não me sinto mais, o abandono é total diante de tamanho horror. Aplaudo o espectáculo do horrendo, saio do teatro e após tamanha barbárie, algo de humano é devolvido. Choro e o Fábio não compreende, eu não o compreendo, não compreendo o tamanho de uma amargura ou lucidez que lhe permite digerir, o que eu não consigo gerir. É importante recusá-lo. Como não recusar um tamanho desalento, que nos coloca para além da impotência, pois se na impotência temos a incapacidade do gesto, no chão de todos os excrementos e cadáveres nenhum gesto terá lugar ou sentido. O palco de Sarah Kane suga-nos tudo, o perturbar sensorial bloqueia-nos qualquer razão. Já tanto faz o lugar onde acontece, tanto faz que seja a Jugoslávia dos anos 90 ou o crime de faca e alguidar da aldeia. Não compreendemos mais, compreendemos menos. Deixa de ser teatro porque rompe com a vida e desconstrói a humanidade. E ao mesmo tempo indago-me, não sentiria o mesmo fora do teatro, nunca a violência foi tão real, verdadeira e íntima a ponto de todas as dores que alguma vez senti, me parecerem pura construção do imaginário da minha cegueira, cobardia e ignorância. Mas as Ruínas de Sarah Kane não me tornam mais sábia, mais lúcida, mais corajosa. Esvaziam. Vomitaram-me na cara. A única forma de agir depois delas é fechar a porta e esforçar-me por esquecer o que vi. Antes a cobardia e cegueira na ilusão dos bons dias que passamos a cada vizinho, do que as ruínas em que se enforcou a dramaturga. O gesto de uma microconstrução apenas útil num microcosmos e absolutamente vã e patética. Destruir, mostrou ela. Plutôt la vie, Sarah Kane!
Luísa
Posted in on 00:55 by catarinaNaquele dia os corpos desfiavam-se e fiavam-se nas rocas e teares dos
quereres apressados, enxotando os novelos de lã empilhados na despensa. Quando
os sentidos retomaram ao espaço e ao tempo de onde tinham partido,
infiltrou-se um silêncio, vindo não se sabe de onde e os ouvidos outrora
surdos ao relinchar do eléctrico escutavam agora com toda a clareza o vai e
vem dos ratos. Em Luísa o chiar dos ratos confundia-se com ecos porque
existia nela como voz interior, impossível de calar senão calando o silêncio.
«Em que pensas Mário?». «Penso neste coração gravado na máquina de costura.
Era o sinal do meu pai para a minha mãe, caso os bufos o apanhassem. Não sei
como é que a máquina não enferrujou com tanto choro, no dia em
que ela chegou a casa e a encontrou assim. Mas no dia seguinte o meu pai
voltou a meio da tarde e acabou por ser o irmão dele a ser levado para
caxias».Luísa muda de assunto, como que a tentar ouvir outra coisa que não
seja aquele chiar. «É verdade, a que horas é que chegam os teus pais?». «A
minha mãe está na feira da ladra a vender lagostins. E o meu pai já deve
estar na tasca porque folga às quartas, por isso amanhã passo o dia na baixa
a distribuir lã, para não o ter de aturar de ressaca». «O que é que faz o teu
pai?». «É projeccionista no Condes».E de repente os ratos calam-se na cabeça
de Luísa e chega-lhe uma imagem dela mesma noutra história, com outro corpo,
quase o dobro das pernas cruzadas a apanhar sol, óculos escuros e a
cabeça levantada à estrela de cinema, num descapotável parado em frente ao
mar.
quereres apressados, enxotando os novelos de lã empilhados na despensa. Quando
os sentidos retomaram ao espaço e ao tempo de onde tinham partido,
infiltrou-se um silêncio, vindo não se sabe de onde e os ouvidos outrora
surdos ao relinchar do eléctrico escutavam agora com toda a clareza o vai e
vem dos ratos. Em Luísa o chiar dos ratos confundia-se com ecos porque
existia nela como voz interior, impossível de calar senão calando o silêncio.
«Em que pensas Mário?». «Penso neste coração gravado na máquina de costura.
Era o sinal do meu pai para a minha mãe, caso os bufos o apanhassem. Não sei
como é que a máquina não enferrujou com tanto choro, no dia em
que ela chegou a casa e a encontrou assim. Mas no dia seguinte o meu pai
voltou a meio da tarde e acabou por ser o irmão dele a ser levado para
caxias».Luísa muda de assunto, como que a tentar ouvir outra coisa que não
seja aquele chiar. «É verdade, a que horas é que chegam os teus pais?». «A
minha mãe está na feira da ladra a vender lagostins. E o meu pai já deve
estar na tasca porque folga às quartas, por isso amanhã passo o dia na baixa
a distribuir lã, para não o ter de aturar de ressaca». «O que é que faz o teu
pai?». «É projeccionista no Condes».E de repente os ratos calam-se na cabeça
de Luísa e chega-lhe uma imagem dela mesma noutra história, com outro corpo,
quase o dobro das pernas cruzadas a apanhar sol, óculos escuros e a
cabeça levantada à estrela de cinema, num descapotável parado em frente ao
mar.
Mauvais plans sur Paris
Posted in on 00:35 by catarina
Jamais
- essayer d'aller au Pompidou le mardi (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller dîner à la cantine espagnole de la CIUP le samedi soir (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller à la bibliothèque du Centre Gulbenkian le lundi matin (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller au cinema champo le weekend, à partir de vendredi soir (c tarif unique, 7,50)
- prendre le 67 depuis la CIUP si on va plus loin que la place d'it (ça prend une étérnité)
- aller aux cycles de cinema de la Maison Heinrish Heine (c cher, on voit rien et on a de la chance s'il y a pas d'accidents téchniques)
- demander un café à la cafeteria de la Maison Internacional de la CIUP (on sert un café dégo, cher, dans un gobelet en plastique)
- aller à la bibliothèque de la CIUP sans un document qui prouve qui on habite là (il vaut mieux faire aller-retour. autrement on va se faire chier grave)
- essayer de faire un adresse suivi à la poste si c d'une maison de la CIUP pour une autre (il n'y a aucune raison plausible, il ne le font pas!)
A bientôt pour plus de mauvais plans.
- essayer d'aller au Pompidou le mardi (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller dîner à la cantine espagnole de la CIUP le samedi soir (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller à la bibliothèque du Centre Gulbenkian le lundi matin (c fermé et ont se trompe tjrs)
- aller au cinema champo le weekend, à partir de vendredi soir (c tarif unique, 7,50)
- prendre le 67 depuis la CIUP si on va plus loin que la place d'it (ça prend une étérnité)
- aller aux cycles de cinema de la Maison Heinrish Heine (c cher, on voit rien et on a de la chance s'il y a pas d'accidents téchniques)
- demander un café à la cafeteria de la Maison Internacional de la CIUP (on sert un café dégo, cher, dans un gobelet en plastique)
- aller à la bibliothèque de la CIUP sans un document qui prouve qui on habite là (il vaut mieux faire aller-retour. autrement on va se faire chier grave)
- essayer de faire un adresse suivi à la poste si c d'une maison de la CIUP pour une autre (il n'y a aucune raison plausible, il ne le font pas!)
A bientôt pour plus de mauvais plans.
93 et 94 ont assuré!!!
Posted in on 03:28 by catarina
93 e 94 não votam sarko. assim como nenhum dos bairros populares de paris.
http://www.lemonde.fr/web/infog/0,47-0@2-823448,54-904808,0.html
la victoire est des bobos. mais ça va cramer!!!!
http://www.lemonde.fr/web/infog/0,47-0@2-823448,54-904808,0.html
la victoire est des bobos. mais ça va cramer!!!!
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