Metro with Dylan


"I'm walking through the summer nights"...
Duroc. O metro abre as suas portas. As pessoas entram ou saem, conforme as perspectivas. Encaixam-se entre os espaços destinados a sentar rabos, apertados, olham pelo vidro. A paisagem reduz-se ao negro do tunel ou ao reflexo das gentes da carruagem. Um velhote puxa de um banco que arrasta consigo, senta-se e começa a tocar acordeão.

"The light in this place is so bad
Making me sick in the head
All the laughter is just making me sad"

Montparnasse. Nova agitação de entradas e saidas [sem autorização de permanência]. Olho para o velhote do acordeão que me sorri, sem reparar nos fios nos meus ouvidos. Sorrio-lhe de volta, um pequeno momento de compreensão mutua, que ambos fazemos parte deste mundo de passagem onde ninguém liga a ninguém. Ou talvez não seja nada disso e eu sinta so pena dele.

"I been ridin a midnight train
Got ice water in my veins"
O velhote do acordeão acaba a musica (a dele), estende o copo e começa a percorrer a carruagem.
"You left me standin' in the doorway crying"

O velhote do acordeão passa, como um fantasma SDF, não ha esmola, não ha ticket restaurante, não ha ouvidos para as suas notas. Tiro umas moedas do bolso, e ao som do Dylan no mp3
["last night I danced with a stranger
But she just reminded me you were the one"] deito-as no copo estendido pela mão rugosa à minha frente. Sorriso. "There's no words that need to be said".
Pernety.
O unico que deu esmola fui eu. Fui também o unico que não ouviu um unico som do acordeão.

[listening to: Bob Dylan, Standing in the Doorway]

2 nomades:

Cata a dit…
25/4/06 13:21

Está lindo o texto! Lindo! Gostava de ter ouvido o acordeão! No caminho da indiferença há sempre pessoas que nunca nos deixam indiferentes. Basta um olhar, um sorriso... Como o sr. do acordeão!
Bjs

Anonyme a dit…
27/4/06 17:16

olha lá, esse metro n é duroc, é clunny la sorbonne....

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