Era dia de chuvada e era hora de ponta. Também era fim do mês, mas para o Zé já tanto fazia o mês e o ano, enquanto acelerava o queixume e a manivela à proa do 28. «Aposto que vou ter de parar dez vezes entre a Maria da Fonte e Sapadores e quando chegar ao mercado hão-de chegar mais dez fulanas a implorar para eu descer mais um bocadinho até à Graça. Umas velhacas dumas hipócritas, como se eu e toda a gente não soubesse que é a subir. Mas hoje não vou. Senão quando der por ela, tenho as fedelhas da Luísa Gusmão a sair das aulas e a balirem para eu as deixar mais à frente e qualquer dia até faço o trajecto do 12». Hoje não, Zé. Hoje quando chegares ao mercado vais ter uma só mulher à tua espera que já regateou para o resto do dia. E enquanto sacode a chuva do cabelo e do saco de laranjas, vai perguntar-te com olhos de aguaceiro e voz de calar trovoada, quanto tempo demoras a levá-la aos Prazeres. Depois, com modos de trovão e pernas de calçada a enguiçar-te os carris quando dobras o Bairro das Colónias: «Olhe, afinal desço aqui que a minha irmã já chegou». E quando chegares aos Anjos e apanhares quem vier da Almirante Reis, vais relinchar o 28 a lembrar o que lhe respondeste: «Desça lá, oh D. Carlota. Que eu hoje fiquei a saber que os Prazeres são já ali na R. da Guiné».

1 nomades:

Anonyme a dit…
14/6/07 09:26

como tinhas prometido aqui esta ele! Zé: uma homenagem aos verdadeiros homens!

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